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O Cosmopolita #3 - A criação de narrativas através da linguagem

Uma análise de como são tratadas na mídia "mainstream" as trocas de reféns entre Israel e Palestina

Saudações!

Dessa vez, aparecendo um pouco mais tarde pra vocês mas seguindo a promessa de que todos os dias vou estar aqui (por enquanto)

Hoje o assunto é mais delicado. Vamos discutir como a linguagem é capaz de criar narrativas, em especial, no noticiário internacional.

Selecionei uma série de notícias que vem sendo divulgadas em grandes veículos de mídia nos últimos dias a respeito das trocas de reféns entre o Hamas e o Governo de Israel.

Nosso foco será justamente em como são tratados israelenses e palestinos na hora que são divulgadas essas notícias.

Primeiro, uma matéria que saiu na BBC no dia 27 de novembro, onde mais reféns foram libertados após a extensão da trégua firmada na última semana.

“A trégua prevê a libertação de um refém pelo Hamas em troca da soltura de três palestinos detidos em Israel.” Israelense? É refém. Palestino? É detido.

“Uma das reféns liberadas na terça foi Tami Metzger, 78 anos, sequestrada em Nir Oz junto com seu marido Yoram, 80 anos, que permanece sequestrado pelo Hamas. Tami tem mobilidade limitada e Yoram tem diabetes e quebrou o quadril há seis meses, segundo a nora do casal.”

“Entre os detentos palestinos liberados estava um adolescente de 14 anos que, em entrevista à rede Al Jazeera, afirmou ter presenciado muitas agressões nas prisões. Ele também disse ter escutado que não poderia sair de sua casa e nem comemorar sua libertação, pois poderia ser levado preso de novo.”

A refém israelense tem nome, problemas de saúde, família, etc. O detento palestino é um adolescente. Apesar do trecho retratar a violência que o garoto pode ter sofrido na prisão, não sabemos nada além da idade. É quase como se fosse estatística.

Agora, indo para um veículo nacional, temos o trecho de uma matéria do UOL do dia 30/11, ainda sobre a trégua

“Mais de 90 pessoas mantidas reféns em Gaza ganharam a liberdade nos seis primeiros dias de cessar-fogo, bem como cerca de 200 prisioneiros palestinos foram liberados por Israel” O padrão se repete. Israelense? Refém. Palestino? Prisioneiro

Além disso, nessa, na matéria da BBC, e também nas matérias reproduzidas por outros portais de notícias internacionais e nacionais, israelenses com nome, uma história triste, uma família aguardando pela sua libertação. Enquanto do lado palestino, se limitam à, no máximo, informar o sexo e a idade.

A criação de personas é uma das maneiras de criar uma aproximação com o leitor, enquanto o número frio, a estatística, afasta. “A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma estatística.”

Pra concluir, há pouco mais de duas semanas a ONU acusou Israel por crimes de guerra. Segundo a organização, o país tem realizado uma punição coletiva aos moradores da Faixa de Gaza. Não vou afirmar que tem um genocídio em curso, mas Israel se aproveita de um atentado para promover sua política de apartheid.